domingo, 5 de junho de 2011

I.I

O dia estava extraordinariamente quente. Abri a janela do quarto, para que o sol entrasse, desinibido. Mas antes de sair deixei-me ficar ali por momentos, a olhar o pouco de paz que ainda fazia parte da minha vida. Sempre gostara daquela casa. Arejada e cheia de sol, não dava vontade de coisa nenhuma a não ser ficar de manhã à noite sentada no baloiço a apreciar as árvores e borboletas que se deixavam embalar pela delicia do tempo. Era uma boa casa. Evocava tantas e tão boas memórias, a cada canto encontrava uma história de embalar.  Era uma casa que nunca perderia o seu brilho, por muito longe que estivessem todas as suas razões para brilhar.
Ia ter saudades de tudo isto. Ia ter saudades da roupa estendida de árvore a árvore, ia ter saudades do baloiço que já pertecera à infância da minha mãe, ia ter saudades de fugir das abelhas pelo meio do mato e voltar a chorar porque me tinha cortado no meio das flores campestres. Ia sentir saudades dos finais de tarde passados ao colo da minha mãe, no meio de tanta vegetação a ouvir uma história de encantar. Vou sentir saudades de tudo. Fechei a janela para que o quarto se mantivesse fresco. Fechei a janela para manter presas naquela casa todas as vidas que por ali se esfumaram.

Como um baú cheio de cartas, esta, era uma casa cheia de histórias.